Editorial: o Processo Editorial de Avaliação Por Pares em Revistas na área da Saúde
Por: Mario Vianna Vettore.O processo editorial de avaliação das revistas científicas na área da saúde vem passando por um amplo debate nos últimos anos. Diversos temas têm sido pautados em congressos científicos e por meio de artigos. Dentre os principais, o processo de avaliação por pares, conhecido como peer review process, sem dúvida é assunto de discussões frente às controvérsias e diferentes opiniões sobre o método mais apropriado para a avaliação de um artigo submetido para publicação.
Seguindo essa tendência, este ano foi realizado em Vancouver, Canadá, o Sexto Congresso Internacional de Revisão por Pares e Publicação Biomédica (http://www.ama-assn.org/public/peer/peerhome.htm). Apesar de ter sido organizado e amplamente representado por editores de países anglo-saxões, importantes questões que foram apresentadas e discutidas são de interesse para autores e editores de revistas de todo o mundo.
Inicialmente, é importante frisar que a comunidade editorial internacional reconhece a expansão em quantidade e qualidade de revistas da área de saúde publicadas na América Latina e Ásia. Além disso, vários editores têm buscado formas de promover o desenvolvimento editorial das mesmas, como por exemplo, usando o fórum de debates da Associação Mundial de Editores de Revistas Médicas (WAME; http://www.wame.org/).
Outra questão importante foi o reconhecimento de que a internacionalização das principais revistas biomédicas, incluindo JAMA, NEJM, Lancet e BMJ, de fato ainda não existe. Isso porque, em torno de 90% ou mais dos artigos publicados nessas revistas são assinados por autores filiados a instituições situadas na Europa, Estados Unidos ou Canadá.
O foco central desse congresso foi a discussão de temas polêmicos e a apresentação de resultados de pesquisas empíricas sobre o processo de avaliação por pares. Para as revistas com maior fator de impacto, o processo de revisão por pares tem sido considerado adequado. Ou seja, em geral revisores independentes tendem a avaliar artigos de modo consistente, o que segundo os editores tem assegurado a boa qualidade dos artigos publicados. Dentre os achados mais interessantes, destacam-se: (a) as questionáveis evidências de que estudos que não encontram associação estatística não levam, necessariamente, mais tempo para serem publicados; (b) que a experiência de revisores não assegura uma melhor avaliação de manuscritos; e (c) que a publicação de estudos financiados por indústrias não afeta negativamente a avaliação de periódicos por parte dos leitores.
No entanto, foram reconhecidas algumas limitações que o processo de avaliação por pares ainda não possibilitou superar. A maioria dos estudos publicados não possui boa validade e não representa algo novo para a ciência. Além disso, os artigos que figuram nas principais revistas da área médica nos últimos anos terão pouco impacto sobre a melhoria dos cuidados à saúde das pessoas.
Apesar de suas limitações, o processo de avaliação por pares ainda é visto como uma etapa essencial no processo de julgamento de artigos científicos. Mecanismos que assegurem a qualidade da avaliação por pares, bem como a agilidade no processo editorial, ainda representam desafios para muitas revistas científicas, especialmente na América Latina, devido a não resposta ou demora por parte dos consultores, assim como a inconsistência verificada nos pareceres assinados por diferentes consultores acerca de um mesmo manuscrito. Espera-se que a qualidade do processo editorial seja sustentada pela legitimidade e credibilidade da avaliação por pares e que, em especial na área da Saúde Coletiva, as novas evidências advindas das pesquisas publicadas em nossos periódicos possam contribuir para aperfeiçoar os serviços de saúde e melhorar a qualidade de vida da população.
Mario Vianna Vettore
Editor
Tags: Avaliação, Periódicos, Saúde